Cato. Quando encontro, conto no Recanto.

"Mas o que os sonhos sabem sobre limites?" Amelia Earhart 1897/1937

Textos

Efeito Colateral
A bula é clara.

O corpo,
Carente do remédio
com a lupa e muita luz,
lê a bula, clara
decifra as letras - microscópicas
só não as traduz
Ignora o tédio.

As entrelinhas
se disfarçam, se escondem
ainda mais miudinhas.

O efeito colateral é certo, inevitável
Dele corremos, fugimos,
Em vão
De repente, ele tão perto
Invariável
Antagonicamente irremediável.

Esses efeitos nos alcançam
Via venal, em vidros
Líquidos, avançam
Engolidos, comprimidos.

Seja na saúde, seja no pranto
Acham um jeito e nos acuam num canto

Se nos pegam pelo coração,
Nossa perdição!
São mais poderosos, gigantes
Deixam-nos tolos,
tontos ingênuos amantes

Melhor seria
Se de medicamentos
A gente não precisasse

Melhor ainda seria
Se sentimentos
A gente dispensasse

O corpo não gemeria.
De ler bulas
Nem precisaria.

Tudo desinfetado
Tão límpido, imune
Vida protegida
em esterelizada roupagem

A alma sofreria, reclamaria
Tamanha blindagem.
Lucia Sant ini
Enviado por Lucia Sant ini em 12/09/2010
Alterado em 19/09/2010
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